A jornada do mundo tech rumo a agenda, enfrenta desafios com a chegada da IA e a migração dos serviços para a nuvem
Em agosto tivemos um recorde de calor em todas as regiões do Brasil. São Paulo, onde vivo, nunca havia registrado um inverno tão quente em 60 anos. Quando olhamos para fora, o cenário foi parecido em todo o restante do mundo. Isso só mostra a urgência – que não é de hoje – sobre a necessidade de debate e implementação de medidas eficazes para minimizar as mudanças climáticas. E o papel de toda a sociedade nisso.
No universo corporativo, muito tem se discutido sobre a importância e o papel das empresas em implementar iniciativas como foco em ESG (Environmental, Social and Governance), que em português representa a sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa Falando sobre sustentabilidade ambiental, principalmente, é muito mais simples visualizarmos as consequências das indústrias tradicionais, como mineração e de energia, por exemplo, mas qual o impacto gerado pelas empresas de tecnologia?
Uma das principais medidas adotadas pelo mundo tech é o compromisso com o NetZero, a neutralização do carbono e o uso de energias renováveis. Mas, a chegada da IA e a migração dos serviços para a nuvem, acenderam um alerta. O Gartner, em seu relatório com as previsões estratégicas para o ano de 2023, informou sobre o risco que a IA traz com relação à sustentabilidade. De acordo com o instituto, “até 2025 a Inteligência Artificial consumirá mais energia do que a força de trabalho humana, prejudicando significativamente os ganhos com o carbono zero”.
O uso consciente de tecnologia pode colaborar
Os serviços em cloud causaram uma transformação no universo tech e isso já não é nenhuma novidade. Hoje, praticamente tudo que transita no universo digital está na nuvem. Mas a nuvem está, fisicamente, em algum lugar. Os milhares de data centers que hospedam todos os códigos e processam volumes de dados estratosféricosestão espalhados por todo mundo – mas ninguém sabe muito bem onde – e precisam de muita energia elétrica para operarem.
Quanto mais nuvem, mais data center, mais energia, mais impacto ambiental. Para se ter uma ideia, hoje, de acordo com relatório divulgado pelas Nações Unidas, a maior parte da eletricidade do planeta ainda é gerada por meio da queima de carvão, petróleo ou gás e apenas um quarto da energia é gerada por vento, sol e outros recursos renováveis que emitem pouco ou nenhum gás poluente.
Um artigo publicado pelo Gartner mostra que os data centers onde a tecnologia de IA é treinada já representam cerca de 2% de todo o uso de eletricidade nos EUA, e seu consumo de energia por área útil já é de 10 a 50 vezes maior que um edifício comercial padrão.
Por maior que seja o frenesi despertado pela IA em todo o ecossistema tech, pouco se tem falado sobre os impactos negativos que ela pode representar ao meio-ambiente. Sob a ótica do ESG, os aspectos de governança e do mercado de trabalho vêm dominando a maior parte das discussões, mas em tempos de emergência climática, há que se jogar luz aos danos causados pelo aumento do uso de energia e a possível escalada que deve se suceder.
Quem sabe a própria IA possa nos ajudar a encontrar soluções para a crise climática.
x
*Fernando Riva é Co-CEO da Iteris