Em parceria com o Imaflora, as marcas estão tratando o desenvolvimento da cadeia como estratégia de negócio
Lana Pinheiro
Dentre as tendências que devem avançar substancialmente na agenda ESG em 2024, está a pressão pelas boas práticas de direitos humanos. Ao menos três fatos sustentam a tese. No último mês de julho, o Parlamento Europeu aprovou texto preliminar da nova diretriz da Devida Diligência e Sustentabilidade Corporativa incluindo o cumprimento de boas práticas em direitos humanos como compulsório para empresas instaladas no bloco ou que para lá vendam suas mercadorias. Em outubro, o Brasil foi eleito para um mandato de três anos no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o que deve aumentar a exposição e o debate da agenda internamente. E em 1 de dezembro, o País assumiu pela primeira vez a presidência do G20 com foco na agenda social de combate à desigualdade e à fome.
As regras da UE valem para toda e qualquer indústria, mas para alguns setores exportadores do Brasil a exigência vem atrelada a uma necessidade de acelerar sua jornada de diagnóstico, cumprimento, monitoramento e comunicação das práticas em curso. Esse é o exemplo do agronegócio brasileiro que é umas das atividades econômicas com maior número de violações aos DH. Para se ter uma ideia, na mais recente atualização do Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão — a Lista Suja —, do Ministério do Trabalho e Emprego, a pecuária de corte aparece no segundo lugar do ranking com 22 ocorrências e o cultivo de café em quarto lugar com 12 casos, em 2023. Dividem espaço com a indústria de carvão e de trabalhos domésticos.
Há no Brasil, no entanto, entidades e empresas do agronegócio com trabalhos e resultados que demonstram que vilanizar toda a cadeia por más práticas ESG é contraprodutivo e falso. Bons exemplos de ações positivas de impacto ambiental, social e econômico foram demonstradas pela Raízen e pela Nescafé, marca do grupo Nestlé, no evento “ESG Agrícola na prática: direitos humanos e relações com fornecedores” realizado pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) no início de novembro, na sede da entidade, em Piracicaba (SP). “O Imaflora está trazendo essa discussão de direitos humanos nas cadeias agropecuárias porque realmente hoje esse é um dos principais desafios de adequação das empresas e de risco para as empresas com seus fornecedores”, afirmou Eduardo Trevisan Gonçalves, gerente sênior da entidade (veja o vídeo da cobertura do evento abaixo).
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CASE DE SUCESSO – RAÍZEN
O primeiro case de sucesso de estratégias desenhadas com apoio do Imaflora apresentado foi o da Raízen. A incumbência de apresentar o modelo e resultados do Programa Elos Raízen ficou a cargo de Gustavo Spegiorin, coordenador de Inovação e Oferta Sustentável da empresa. Criada em 2014, a iniciativa foi desenvolvida para orientar a atuação dos fornecedores de cana-de-açúcar nos diversos aspectos do desenvolvimento sustentável, econômico e responsável. “Trabalhamos continuamente para que cada um dos nossos fornecedores melhore suas práticas nas fazendas”, disse para uma plateia de produtores e especialistas no tema.
Em 10 anos de implementação, o programa traz resultados consistentes. A cada safra, 100% das propriedades são visitadas, sendo 44% delas de até 50 hectares. “O grande desafio para o time é adaptar a linguagem de nossas metas, compromissos e ações para criar um diálogo efetivo com uma grande parte da cadeia que é formada por pequenos produtores”, afirmou o executivo. Com treinamento, os cerca de 30 colaboradores dedicados integralmente ao programa já implementaram, junto aos pequenos produtores, mais de 400 ações de melhorias no último ano. Melhorias essas divididas em quatro pilares: Direitos Humanos, Meio ambiente, Práticas Agronômicas e Negócios.
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CASE DE SUCESSO – NESCAFÉ
Da cana-de-açúcar para o café. O segundo case de sucesso com estratégias para o desenvolvimento de produtores foi o da Nescafé, apresentado por Rodolfo Clímaco, gerente de Agricultura de Cafés da Nestlé. Com a ousada meta de chegar a 2025 com uma redução de 20% nas emissões de gases de efeito estufa e 100% do café vendido pela marca sendo sustentável, a multinacional de alimentos sabe que precisará engajar toda a cadeia de valor nessa jornada que alia ações e resultados nos pilares ambiental e social. “Com a agricultura regenerativa, capturamos carbono por meio do plantio de árvores, aumentamos a resiliência da lavoura e trazemos melhor renda para o produtor”, explicou para a plateia.
Em sua apresentação, o gerente da Nestlé também destacou o Nescafé Plan 2030, que no Brasil ganhou o nome de Programa Cultivado com Respeito, lançado em 2011 como o maior programa de sustentabilidade na cafeicultura. Neste plano, a ajuda da empresa aos produtores são apresentadas em diversas frentes, entre as quais ajudar os fazendeiros a melhorar a saúde do solo, o gerenciamento da água, da biodiversidade e da produção de sua propriedade com a técnica agrícola que combina a plantação de café com o cultivo de outras árvores, sistema conhecido como agrofloresta. Mas o programa ainda inclui apoio na otimização dos fertilizantes, em estratégias de redução de CO2 e até no empoderamento de mulheres e jovens produtores.
Conforme informações oficiais da própria empresa, no Brasil 100% das mais de 1,5 mil famílias produtoras parceiras da marca já são adeptas a práticas regenerativas graças ao programa. Em uma dimensão global, a Nescafé apoia cerca de 100 mil famílias cafeicultoras e compra 800 mil toneladas de grãos (o que supera 13 milhões de sacas).
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Essa matéria fala majoritariamente dos ODS1, ODS2, ODS8, ODS13 e ODS17
Fontes:
https://www.nestleprofessional.com.br/programa-cultivado-com-respeito