A Europa, onde as leis de igualdade salarial avançaram com velocidade, pode ser um grande aprendizado para as empresas brasileiras
Tatiana Sadala
Oportunidades de mudança, geralmente, estão atreladas tanto a situações de crises, quanto ao aumento de possibilidades. A visão sobre pesquisas, carreira e profissão se expandiu para quem atua no ambiente corporativo, e expandindo as oportunidades. Desde o primeiro semestre deste ano, eu percebi que precisava buscar mais insumos, estudos e experiência para fazer a Todas Group, empresa que cofundei em 2020, alcançar mais pessoas e companhias.
A Todas Group, que oferece programas corporativos de desenvolvimento e formação de lideranças femininas, é filha da pandemia – já nasceu na cultura da comunicação assíncrona, das reuniões por videochamada, dos encontros virtuais, no que era necessário para manter o isolamento social.
Iniciamos a operação de forma totalmente digital e, hoje, usamos essa experiência como oportunidade para o oposto: em vez de isolamento, vamos buscar o mundo e romper fronteiras para que a empresa continue evoluindo dentro desse horizonte global.
A ideia de deixar de morar no Brasil veio com a vontade de abrir novos horizontes, aprender mais e aplicar aprendizados na própria Todas e nas empresas parceiras. “Vamos buscar novas referências, vamos atrás das mais bem-sucedidas práticas corporativas do mundo sobre igualdade no mercado de trabalho. Precisamos ver de perto como as coisas acontecem, para trazermos as melhores ideias para o Brasil” – foi o que pensei quando decidi me mudar para a Europa.
Para quem está em busca de expandir sua empresa, crescer de verdade, com bases sólidas e resultados para todos os envolvidos, a jornada é feita de constante aprendizado. Inovação, criatividade, relacionamentos e conexões são importantes, mas o aprendizado é fundamental – e contínuo, ou então ficamos para trás.
Tratando-se do desenvolvimento e evolução constantes de carreiras femininas, faz sentido buscar aprendizado nos países e companhias que estão avançando a passos mais largos, para levar para o Brasil possibilidades que geram os melhores resultados no mundo.
Segundo o relatório Global Gender Gap 2023, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil tem progredido nas questões referentes à igualdade de gênero. O relatório usa uma escala de 0 a 1 para dar nota aos países, quanto mais próxima de 1 estiver a nota, mais próximo o país está da plena igualdade entre homens e mulheres. De 2022 para 2023, saltamos 40 posições no relatório.
A nota é uma média entre quatro critérios básicos e dois deles impactam negativamente o Brasil com maior força: oportunidades econômicas e empoderamento político. A média brasileira está em 0,726, colocando-o logo atrás da Croácia e da Bolívia no ranking de 146 países. Considerados os mais igualitários do mundo, de acordo com o índice, estão nos primeiros lugares a Islândia (0,912 pontos), Noruega (0,879) e Finlândia (0,863).
O relatório também mostra que, desde 2022, a Europa ultrapassou a América do Norte e tem a maior paridade de gênero entre todas as regiões: superou a desigualdade em 76,3%. Um terço dos países europeus está entre os 20 primeiros do ranking e mais da metade (56%) alcançou pelo menos 75% de paridade.
Além disso, é também na Europa onde as leis de igualdade salarial avançaram com velocidade, em meio a crises, altos e baixos, diferentes cenários econômicos e sociais – o que pode ser um grande aprendizado para as empresas brasileiras que também precisam se adequar a nova lei salarial, sancionada recentemente.
O acesso aos rankings mundiais, informações de pesquisas e estudos de casos divulgados pelas empresas, entidades, governos e imprensa são pontos de partida muito importantes para que, aqui no Brasil, iniciativas voltadas para o desenvolvimento das mulheres no ambiente corporativo saiam do papel e se concretizem.
Tais iniciativas impactam diretamente um dos pontos que tem puxado a nota brasileira para baixo: as oportunidades econômicas, atravessadas pelo desenvolvimento das mulheres no mercado de trabalho. A parceria da Todas Group com mais de 30 empresas para impulsionar carreiras femininas começou a partir dos aprendizados que colhemos dessas e de outras pesquisas – e tem impactado diretamente na geração de resultados das companhias.
Começamos a trajetória criando uma metodologia única, a partir do estudo do desenvolvimento profissional de 40 das maiores líderes femininas da América Latina – no início buscamos exemplos locais, para nos destacarmos e impulsionarmos toda a região.
Outras oportunidades e possibilidades surgiram: agora, desembarco na Europa para expandir conhecimentos. Viemos aprender mais (e reaprender) onde acontecem as ações que geram maior impacto local e global. Como CEO, senti a necessidade de fazer o estudo in loco, vivenciar e estudar as experiências para levá-las ao Brasil, adaptá-las e replicá-las, com a propriedade de quem teve contato direto com as conquistas e desafios das empresas e países que já sabem caminhar com mais rapidez.
A disposição necessária e exigida para ocupar o lugar de “empresa global” é grande, exige muito apoio e compreensão das pessoas que fazem parte dessa jornada. Seguimos na caminhada com a consciência de que estou aqui como a sucursal internacional da Todas Group.
Dentro da efervescência que existe no cenário atual, as três pontas se unem: as oportunidades de aprendizado que ultrapassam fronteiras, as possibilidades de inovação para empresas parceiras e para as equipes brasileiras e o fortalecimento do DNA de negócios que nasceram do constante aprendizado, para ganhar o mundo.
*Tatiana Sadala é cofundadora e CEO da Todas Group, programa de desenvolvimento corporativo, composto por um ecossistema criado especificamente para atender os desafios e necessidades na formação de lideranças femininas