Setores público e privado se reúnem para traçar estratégia e narrativa únicas na Cúpula do Clima, em Dubai


Agronegócio na COP: a imagem do Brasil não é boa e a culpa é nossa

PRINCIPAIS PONTOS

  • Caminhos do Agro para a COP 28 quer criar narrativa única sobre o agro na Cúpula
  • Na mesa, o Brasil colocará o risco da mudança climática para a segurança alimentar
  • A energia de origem fóssil será apresentada como a real e grande ameaça
  • A ideia é tirar o agronegócio do papel de agressor para o de vítima do aquecimento global

x

Por Lana Pinheiro

x

“Agronegócio na COP: a imagem do Brasil não é boa e a culpa é nossa”, o título da matéria foi dito hoje pela manhã pelo embaixador e ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, durante o evento Caminhos do Agro para a COP-28. Realizado na Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), a iniciativa foi promovida pela entidade anfitriã em conjunto à Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e à Sociedade Rural Brasileira (SRB). 

Além de discutir as perspectivas da COP-28 para o setor, o evento teve como principal objetivo alinhar um discurso que possa embasar a narrativa e atuação do Brasil na conferência. Esse foi o contexto da fala do embaixador que discorria sobre o fato de entidades da sociedade civil associarem, segundo ele, de maneira desproporcional, o desmatamento à atividade. “Noventa por cento do que sai na mídia internacional é uma mera reprodução do que divulgamos aqui mesmo no Brasil, sobretudo com notícias incendiárias e negativas.”

DESMATAMENTO 

Em sua fala, o embaixador citou um recente relatório que teria associado 100% do desmatamento ao agronegócio. Informações que segundo ele são “um tiro no pé, não só do agro, mas do Brasil”, o que, em última instância, afeta a população: “Quem sempre vai pagar a conta é o cidadão mais pobre e mais vulnerável”. Ele, no entanto, não citou a fonte ou o nome do documento.

Dentre os relatórios sobre mudanças climáticas mais recentemente divulgados está o Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa dos Sistemas Alimentares no Brasil, do Observatório do Clima. Segundo o documento, os sistemas alimentares responderam por 73,7% (1,8 bilhão de toneladas) das 2,4 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa lançadas pelo País na atmosfera em 2021. Sendo a principal causa das emissões, o desmatamento. 

Em sua fala, o embaixador defendeu que está na hora da comunidade internacional entender que a contribuição do Brasil para a agenda vai além da questão florestal. “Precisamos transcender a Amazônia. É claro que a Amazônia é importante, mas ela sozinha não é suficiente”, afirmou. Por isso, defendeu a importância da união dos diversos agentes públicos e privados para a construção de um planejamento e de um discurso unificado na COP-28 sobre o agronegócio brasileiro. 

DISCURSO ÚNICO 

Para o também embaixador André Aranha Lago, atual Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do governo federal, não há dúvidas de que o Brasil chegará unido ao evento. “A COP não será usada para discussões internas. Vamos nos apresentar como uma solução”, afirmou.  

Segundo ele, a posição do Brasil está muito clara, e passará por tirar o agronegócio do papel de agressor das mudanças climáticas, para o de vítima. Situação que deixa a segurança alimentar global perigosamente vulnerável: “A agricultura poderá ser uma das grandes vítimas das mudanças climáticas e temos que assegurar, antes de mais nada, que o mundo possa ser alimentado dentro das circunstâncias desafiadoras que a mudança do clima vai apresentar.” 

O secretário garantiu que o Brasil defenderá a sustentabilidade da agricultura nacional e argumentos para desvincular o agronegócio avançado “de abusos que estão sendo cometidos em algumas regiões e que vem sendo distorcidos para atingir o agronegócio inteiro, apesar de cometido por alguns poucos.”

ENERGIA, A VILÃ

Na parte mais enfática de sua participação, o embaixador André Aranha Lago, deixou claro que uma das principais estratégias pensadas pelo governo, no entanto, não é ficar justificando a agricultura ou explicando o desmatamento. Será apontar o dedo para aquela que, de fato, é a vilã das emissões dos gases de efeito estufa (GEE): “A energia, a energia, a energia”, afirmou. 

Ele ressaltou que do total de emissões globais, 70% tem no uso de energia fóssil sua origem. O desmatamento, contribuiria, segundo ele, com 10%. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, no entanto, a matriz global de emissões é constituída por 25% do setor de eletricidade e produção de calor (energia); 24% pela agricultura, silvicultura e uso da terra; 21% pela indústria; 14%, por logística; 10%, outras energias; 6%, construção. 

INTERESSES 

Na discussão sobre a narrativa brasileira a ser construída, a Secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Renata Bueno, fez uma síntese do que o Brasil precisa se lembrar ao sentar à mesa: 

“A COP não é uma discussão somente das mudanças climáticas. É, sim, sobre o clima, mas é, sobretudo, uma questão de interesses econômicos”, afirmou. 

NARRATIVA E REALIDADE 

Não há como negar que há no Brasil um agronegócio que preza pela sustentabilidade com aplicação de técnicas de agricultura regenerativa que podem servir de exemplo para o mundo. Entre elas, a agrofloresta, o plantio direto e a Integração Lavoura-Pasto-Floresta (ILPF). Técnicas que já são adotadas, principalmente, por grandes produtores exportadores, já que o rastreamento é condição essencial para a comercialização das commodities no mercado internacional. 

É dessa agricultura que se deve falar em Dubai, o que abre uma oportunidade importante para o Brasil: a de uma mobilização conjunta e definitiva do governo com o setor para tirar do mercado de vez – nas palavras do embaixador Lago – “os poucos produtorres” que cometem práticas ilegais. Essas, sim, como disse o embaixador Roberto Azevedo, com grande impacto na população vulnerável: seja pelo uso de mão de obra escrava, pelo uso irregular de terras da União e até pelo não pagamento de impostos, marmelada que se o cidadão vulnerável fizer, vai preso.

Veja o evento completo

x

Esse texto trata maoritariamente do ODS2; ODS7; ODS13

Leia mais